Senado pode reverter barreiras impostas ao Uber

O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), autor de projeto de regulariza os serviços de transporte individual de passageiros por aplicativos de celular, afirmou que as barreiras ao Uber e afins, aprovadas na última terça-feira na Câmara dos Deputados, serão revertidas no Senado.

Ferraço considera “grave retrocesso” a mudança do status do serviço, de privado para público, o que, na prática, “estatiza” uma das mais populares iniciativas da nova economia, ao condicioná-la à regulação, outorga e cadastro em nível municipal. “Vivemos o tempo digital e aprovaram uma medida da era analógica. Olharam para o retrovisor”, resumiu Ferraço.

Os carros passariam, por exemplo, a ser identificados por placas vermelhas, de carro alugado. “Isso revela um viés intervencionista que só vem para atrapalhar, tutelar”, afirmou o parlamentar. Para ele, o ideal seria ter uma norma nacional e deixar às cidades um espaço apenas para regular o que lhe caiba.

Pelo projeto de Ferraço, o PLS 530/2015, o motorista do Uber não seria considerado como transportador comum nem prestador de serviços de transporte público de passageiros. Ele passaria a atuar como microempreendedor, obedecendo uma série de obrigações legais. “O consumidor precisa ter o direito de escolher a modalidade de transporte que melhor o atenda”, finalizou.

Apresentado em agosto de 2015, o texto de Ferraço inclui no Plano Nacional de Mobilidade Urbana essa modalidade, definida como “serviço remunerado de transporte de passageiros não aberto ao público, por intermédio de veículos particulares, para a realização de viagens individualizadas, previamente contratado por meio digital ou não”.

Ferraço considerou impossível proibir um fenômeno como o Uber, ele, é preciso criar uma regra nacional. Para Ferraço, não é possível que cidade A tenha um serviço e cidade B não o tenha.

O senador afirmou compreender a angústia dos taxistas, categoria que, como disse, precisa ser incorporada ao diálogo sobre o projeto. Ferraço anunciou que comparecerá à audiência pública proposta pelo senador Paulo Paim (PT-RS) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) para debater o serviço. Estão convidados representantes dos diversos segmentos envolvidos.

Em aparte, o senador João Capiberibe (PSB-AP) observou que os taxistas estão preocupados com a perda do mercado numa situação de crise. O parlamentar elogiou o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, por formar uma comissão para discutir o problema, inclusive com a perspectiva de que os taxistas possam também entrar no Uber.

Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que, na prática, deve inviabilizar o serviço de transporte em carro particular chamado por aplicativos em celular. O serviço é prestado por empresas como Uber, 99, Easy e Cabify. Apenas a Uber, a pioneira desse mercado no Brasil, atende mensalmente mais de 13 milhões de pessoas em quase 50 cidades.

Na prática, a diferença será a seguinte: hoje as empresas podem oferecer o serviço do transporte em carros particulares à população e cabe às prefeituras regulamentar da forma como acharem adequado; se as novas regras se transformarem em lei, tudo será proibido e a população ficará privada dessa opção de transporte até que os municípios legislem sobre o tema, algo que, no Brasil, pode demorar anos ou décadas – haja visto o projeto de lei sobre a terceirização, que ficou quase duas décadas parado no Congresso.

O projeto passa a tramitar no Senado. Nada muda até que ele seja aprovado pelos senadores e, em seguida, se não houver mudanças, sancionado pelo presidente Michel Temer, que pode vetar alguns pontos.


Publicada em : 08/04/2017

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