JEITINHO BRASILEIRO: DA CRIATIVIDADE À CORRUPÇÃO
No Dia Internacional de Combate à Corrupção vamos falar do famoso "jeitinho brasileiro". Por que ele está tão presente na nossa cultura? O porquê de agirmos da forma que agimos, reproduzindo essa prática de maneira tão frequente? Para que possamos compreender ao máximo a nossa sociedade, precisamos entender melhor esse controverso conceito. O site Politize! nos ajudou com isso.
Imagine a seguinte situação: você está na fila do banco. Muitas pessoas esperam para serem atendidas e há um número pequeno de funcionários para atender a todos. As horas não passam, o recinto está abafado e as crianças à sua frente choram, angustiadas com a demora daquele ambiente desinteressante. De repente, você vê um homem andando rapidamente em direção ao caixa. Lá na frente você percebe o homem tentando ser atendido, mas a funcionária faz sinal negativo. Ele diz que seu caso é uma emergência e que o que ele precisa é “rapidinho”.
A funcionária continua negando, porém ele é persistente. Nesse momento, o tumulto na fila começa e alguém lá no fundo grita “a fila começa aqui!”, mas o homem não hesita e, de tanto insistir, aparece o gerente. Este o chama num canto e pega o papel que o homem tem em mãos. Pronto, o homem conseguiu o que tanto queria, mesmo com a longa fila e a demorada espera. Esse é o clássico “jeitinho brasileiro”.
Com certeza você já presenciou alguma cena desse tipo. Pode ter sido no banco, na padaria ou em qualquer outro lugar. Parece que sempre existe alguém pronto para “dar um jeito”. Se não fosse assim, o jeitinho brasileiro não seria tão conhecido por nós, não é mesmo? Mas acredite, por mais que o termo esteja na boca do povo, suas origens são mais profundas do que imaginamos!
DEFINIÇÕES E CONCEPÇÕES
Todos nós temos noção do que é o jeitinho brasileiro e podemos identificá-lo em diversas situações cotidianas. Mas é importante entender também o que os estudiosos têm a dizer sobre ele. Dois exemplos são os antropólogos Lívia Barbosa e Roberto DaMatta, que definem o jeito como algo relativo, que pode ser visto tanto como algo bom quanto ruim
No livro “O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros”, Livia Barbosa mostra a ambiguidade do conceito:
“ […] o jeitinho é sempre uma forma “especial” de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida; ou uma solução criativa para alguma emergência, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Portanto, para que uma determinada situação seja considerada jeito, necessita-se de um acontecimento imprevisto e adverso aos objetivos do indivíduo. Para resolvê-la, é necessária uma maneira especial, isto é, eficiente e rápida, para tratar do ‘problema’.”
Neste mesmo livro, Barbosa traz outro ponto interessante. O jeitinho brasileiro pode ser visto tanto como um favor, quanto como uma forma de corrupção. Segundo a autora, ele estaria localizado entre esses dois polos, onde o primeiro é positivo e o outro é negativo, podendo pender mais para um lado ou para o outro. O que caracterizaria o jeito como algo positivo ou negativo depende da situação em que ele ocorre e a relação que existe entre as pessoas envolvidas.
Digamos, por exemplo, que você pediu para que uma pessoa fizesse um favor para você. Até aí não vemos nenhum problema. Podemos pensar que essa pessoa é sua amiga, tornando a situação mais comum ainda. Mas vamos supor que esse seu amigo seja um funcionário do DETRAN e você irá perder sua CNH por dirigir em alta velocidade. Ou seja, o que era um simples favor começa a se caracterizar como algo ilegal. Isso demonstra os dois pontos: como o favor começa a pender para o polo negativo, a depender da situação, e como a relação entre os indivíduos envolvidos é um fator que contribui para o jeitinho. Barbosa explica:
“Um outro aspecto que singulariza o jeito do favor é o grau de conhecimento entre as pessoas envolvidas na situação. Enquanto eu posso pedir um jeito a um desconhecido, favor não se pede a qualquer um. […] existe a idéia de que determinados assuntos e situações requerem confiança por parte de quem pede e, portanto, é necessário conhecer com quem se está tratando.”
Em Dando um jeito no jeitinho, Lourenço Stelio Rega traz uma ampla variedade de visões. O autor mostra como são extensas as concepções sobre o conceito, que representam o “jeitinho” desde algo positivo – que retrata a flexibilidade e criatividade do brasileiro em resolver situações – até como uma filosofia de “tentar levar vantagem em tudo”, uma forma de corrupção – nesse caso caracterizando-se como algo negativo.
PORQUE TEMOS ESSE NOSSO JEITINHO?
Publicada em : 09/12/2017