"Governo perdeu o timing para aprovar Reforma da Previdência"

Em entrevista para a Gazeta do Povo, o economista e secretário-geral da Contas Abertas, Gil Castello Branco, falou sobre a reforma da Previdência.

"O grande problema de mais um adiamento da votação da reforma da Previdência foi justamente a questão de esse debate se tornar uma peça importante na sucessão presidencial de 2018. O governo perdeu efetivamente o tempo e o momento de aprovar essa reforma. E é claro que isso pode nos dar problemas, porque a economia vive de fatos e de expectativas.

Sob o ponto de vista dos fatos, essa reforma nem faria uma grande alteração nas contas públicas nos próximos anos, mas, sob o ponto de vista da expectativa, teria efeitos sim, porque era uma sinalização para o mercado, para as agências de risco, de que o Brasil estaria, de fato, preocupado com o ajuste de suas contas, que atualmente são altamente deficitárias.

Não havendo essa sinalização, as expectativas serão frustradas e corre-se o risco, mesmo, de que alguns parâmetros voltem a degringolar: seria a própria inflação, um eventual julgamento que seja feito pelas agências de risco... De certa forma, o adiamento da votação para 2018 foi o pior. A não aprovação está afetando mais as expectativas e os humores do que propriamente os fatos em si, até porque a reforma já tinha sido tão desidratada que seus efeitos concretos e EM longo prazo já eram pequenos.

Há duas semanas, quando houve a perspectiva de a reforma ser aprovada no Congresso Nacional, na mesma hora foi cogitada até a reeleição de Michel Temer ou do seu grupo, que estaria se reestruturando a partir da provação dessa matéria. É óbvio que o adiamento tornou muito mais difícil aquilo que já era complicado - que seria aprovar, às vésperas do ano eleitoral, um tema polêmico e impopular, sobretudo perante a categoria organizada dos servidores públicos.

Em não sendo aprovada este ano, em 2018 a dificuldade será ainda maior porque a questão eleitoral vai continuar presente e até mais próxima do momento decisivo das eleições. E, além do mais, o projeto da reforma da Previdência é altamente polêmico, e essa controvérsia não deverá ser dirimida, até porque realmente envolve direitos e envolve situações pessoais".


Publicada em : 15/12/2017

Copyright © 2018 Associação Contas Abertas