Em meio a desmanche da Lava Jato, delegados pedem mudança de diretor-geral da PF

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) encaminha ao presidente Michel Temer nesta segunda-feira (13) pedido de mudança na Direção-Geral da Polícia Federal e a indicação de novo Diretor-Geral. A decisão foi tomada em Assembleia e teve a aprovação de 72% dos delegados e delegadas de todo o país.

De acordo com nota da Associação, os Delegados da PF entendem que a atual Direção-Geral não vem atendendo às necessidades do órgão. Além disso, eles destacam que uma “constante omissão” vem causando o enfraquecimento da instituição.

“[A atual diretoria] não promove o apoio devido àqueles que se dedicam às grandes operações, nem aos que estão a cargo das investigações rotineiras, resultando em um clima geral de insatisfação e indignação de centenas de Delegados que dedicam suas vidas ao trabalho policial, tão admirado por todos os brasileiros”, afirma a associação.

A ADPF ainda aponta falta de apoio da Direção-Geral da Polícia Federal. Diversos Delegados Federais que coordenavam operações policiais foram deslocados para outras áreas e locais, devido ao esgotamento físico, mental e operacional a que são submetidos.

“Registre-se que essa situação de abandono institucional não ocorre em nenhuma outra instituição que participa diretamente das investigações criminais, como o MPF e a Justiça Federal”, destaca nota.

O pedido de substituição do delegado irá coincidir com outras alterações que podem afetar a Operação Lava Jato. Em diferentes frentes de poder existem tentativas para frear a maior investigação de corrupção do país.

Com o aval do Planalto, inclusive, acusados de corrupção ocuparam postos-chave no Congresso. É o caso de Édison Lobão, presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado -, assumindo o controle sobre a tramitação de qualquer projeto. Outros dez senadores supostamente envolvidos na Lava Jato integram a Comissão.

Também foi indicado de Michel Temer, Alexandre de Moraes ao Supremo Tribunal Federal, vaga na qual terá papel de protagonista no julgamento da Lava Jato, como revisor. Sinais de impunidade pairam sobre o governo, o Congresso, no Supremo e até a Polícia Federal.

Conforme publicação da Revista Veja, o vale-tudo contra a operação, conta ainda com ações praticadas sem estardalhaço. Uma delas é o desmonte da força-tarefa da Lava Jato. Responsável por aprofundar os inquéritos que resultaram na prisão dos empreiteiros, o delegado da Polícia Federal Eduardo Muaut foi removido para o Rio Grande do Sul. Em resposta, criticou o diretor-geral da Polícia Federal: “Enquanto, o doutor Leandro for diretor-geral, não vou retornar à Lava Jato”.

Em seguida, o delegado Luciano Flores, que fez a condução coercitiva do ex-presidente Lula, foi designado como superintendente da PF no Espírito Santo. O delegado Márcio Anselmo, que se desvendou a relação do doleiro Alberto Youssef com a Petrobras, foi convidado para comandar a corregedoria da PF, também no estado capixaba.

Diante dos relatos, os Delegados Federais resolveram iniciar um movimento para a substituição do Diretor-Geral da PF, sendo o primeiro ato o encaminhamento de um ofício ao Presidente Michel Temer solicitando a mudança do Diretor-Geral da Polícia Federal e apresentando o currículo dos três Delegados de Polícia Federal, de classe especial, escolhidos pelos Delegados para ocupar a Direção-Geral da instituição.

“Confiamos na sensibilidade do Presidente da República para avaliar essa preocupante situação da Polícia Federal com toda a atenção a fim de evitar prejuízos irreparáveis no futuro”, conclui a nota.


Publicada em : 13/02/2017

Copyright © 2018 Associação Contas Abertas