Delação de Palocci expõe setor privado

Cada informação de uma nova delação a ser realizada mostra que “muita água ainda pode rolar debaixo da ponte” da Operação Lava Jato. O que está mais adiantado nesse sentido é a delação de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos Lula e Dilma.

De acordo com informações divulgadas por diversos veículos de comunicação, Palocci tem apresentado muita munição contra Lula. Além disso, as declarações do petista incluem bancos, setores automotivo e sucroalcooleiro, e relações suspeitas de empresas com a Receita Federal.

Relatório do Fisco anexado aos autos da Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato, mostra exatamente essa ligação de Palocci com o setor privado.

O relatório revela que Projeto Consultoria Empresarial e Financeira, controlada pelo ex-ministro, recebeu entre 2007 e 2015, total de R$ 81,3 milhões de 47 empresas. A investigação aponta apenas empresas que efetuaram pagamentos em montante superior a R$ 300 mil .

Ao longo dos anos pesquisados o contribuinte constou como beneficiário em Declaração do Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (DIRF) de várias empresas. A JBS, que também realizou delação que caiu sob o governo de Michel Temer, assim como de seus antecessores, pagou R$ 2,3 milhões para e empresa de Palocci. No topo dos pagamentos, no entanto, está o Banco Bradesco com R$ 16,6 milhões destinados para a Projeto. Além do Bradesco estão na listas o Itaú, Santander, Safra e Banco Original.

A lista montada pela Receita Federal mostra a grande diversidade de áreas do setor privado que contrataram a consultoria de Palocci. Estão entre as beneficiárias dos serviços montadoras, como a Hyundai Caoa do Brasil, empresas de alimentos e bebidas (Ambev) e até o escritório de advocacia do ex-ministro da Justiça do presidente Lula, Marcio Thomaz Bastos.

Palocci já teria apresentado informações contra representantes do setor automotivo. Durante os governos do PT, sobretudo os anos de Lula no Planalto, o setor foi muito beneficiado por desonerações de impostos como uma maneira de impulsionar o consumo interno e permitir que o país superasse a crise econômica de 2008.

Só para Palocci, a Projeto rendeu, entre 2007 e 2015, um total de R$ 12.076.339,59 como remuneração do trabalho (R$ 335.900,00) e lucros/dividendos (R$ 11.740.439,59).

O relatório da Receita aponta que, a partir de 2011, passou a constar na Declaração de Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas o balanço patrimonial da Projeto. O balanço mostra o valor de R$ 7.482.024,00 constantes na rubrica “Edifícios e Construções” e o valor oscilando em torno de R$ 1,6 milhão na rubrica “Equipamentos, máquinas e instalações industriais”.

“Acredita-se que estes valores são elevados para uma empresa com poucos funcionários e que exerce atividade de consultoria em gestão empresarial. Em 2014 com a apresentação da Escrituração Contábil Fiscal (ECF) foi possível ver que o valor R$ 7.482.024,00 classificado no ativo na conta “edifícios e construções” eram discriminados como “apto 131 edif. Dante Alighieri” no valor de R$ 6,6 milhões e “conj.401 edif. Ciragan off” no valor de R$ 882.024,00”, aponta a Receita.

A delação

Segundo o Correio Braziliense, até o momento Palocci já apresentou 12 anexos em sua delação. Neles constam documentos, comprovações de reuniões e nomes de pessoas com as quais se relacionou ao longo do período em que foi ministro. Mas também longe da Esplanada, em conversas para arrecadação de recursos para a reeleição de Lula em 2006 e na primeira vitória de Dilma, em 2010, quando foi o coordenador-geral da campanha.

De tudo o que Palocci falou até o momento, a principal munição atinge o BTG Pactual, banco que foi presidido por André Esteves, preso em novembro de 2015, acusado de obstrução das investigações da Lava-Jato. Foi liberado poucas semanas depois, mas o fantasma do crescimento mal explicado do banco nos anos do PT no poder continuam assombrando os petistas. Estão na mira, por exemplo, as compras de outros bancos pelo BTG.


Publicada em : 06/06/2017

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