Com prejuízo e ingerência política, ministro admite privatizar Correios

Com prejuízo acumulado de R$ 4 bilhões nos últimos dois anos, os Correios parecem estar sem outra saída a não ser a privatização. A ideia foi admitida ontem (28) pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Gilberto Kassab. Para o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, funcionário aposentado dos Correios, a empresa se perdeu no tempo.

"Os dois principais produtos, cartas e telegramas, praticamente já não existem. Hoje, nem as contas chegam pelos Correios. A companhia depende de encomendas, mas não tem sistema próprio de transporte. Tem problemas de logística, pois concorre com as empresas aéreas", que priorizam as suas próprias encomendas, avaliou.

Além disso, emendou Castello Branco, é uma estatal "inchada", com mais de 100 mil funcionários e agências em todo o Brasil. "A estrutura dos Correios é muito cara. Tem um efetivo gigantesco e acumula prejuízos sucessivos. Seja como empresa pública ou privada, a ECT vai precisar se reinventar. Mas, a privatização deve, sim, ser cogitada", sentenciou.

O especialista lembrou que o argumento contrário à privatização sempre foi o lado social dos Correios. "Quem vai entregar a correspondência na Amazônia? Mas isso não é justificativa. É mais fácil bancar uma empresa privada para fazer isso, do que manter uma estatal desse porte", considerou. A telefonia foi privatizada e os serviços foram ampliados e aprimorados.

Castello Branco destacou que a ingerência política conseguiu a façanha de quebrar não só a própria empresa, mas também o fundo de pensão, o Postalis. "Eu pago R$ 1,6 mil por mês só para cobrir o déficit do Postalis", lamentou.

Apesar de se dizer contra a venda da estatal, Kassab apontou que o governo não tem dinheiro para injetar na empresa, deficitária e sem perspectivas de aumento de receita.

"Temos que fazer esforços para evitar a privatização dos Correios ou de parte dele, mas não há saída. O governo não tem recursos. Não haverá aporte nos Correios. Isso é uma decisão de governo", disse. "Ou vamos cortar gastos e fazer cortes radicais, ou vamos rumar para a privatização", acrescentou.

Os Correios estudam dispensar até 25 mil funcionários por meio de demissão motivada. O ministro assinalou que o governo está buscando receitas em serviços adicionais, como a entrada da estatal no ramo de telefonia. No entanto, Kassab admitiu que a crise é reflexo de má gestão, casos de corrupção e ingerência política.

Kassab admite que o histórico dos Correios é terrível. A empresa foi loteada por políticos. O atual presidente da estatal, Guilherme Campos, foi indicado pelo ministro, que integra a cota do PSD no governo de Michel Temer.

Para a Federação dos Empregados, o preenchimento dos cargos por políticos colaborou para a ruína da empresa.
“Entra partido e sai partido e os Correios não conseguem se manter num foco, num alinhamento realmente de empresa, a qual ela hoje é considerada uma empresa mundial. O problema é o trabalhador? Não, o problema não é o trabalhador, o problema é a administração, que infelizmente não segue o que deveria ser feito, realmente, para manter essa empresa sustentável”, diz Susy Cristiny, da Federação Nacional dos Empregados dos Correios.

As férias de quem trabalha nos Correios foram suspensas por um ano. Foi aberto um programa de demissão incentivada. Saíram 5,5 mil servidores, mas a expectativa era de 8 mil. Assim, a ideia atual passou a ser a demissão motivada. A forma está sendo estudada e os representantes dos trabalhadores já foram avisados.

Para a Federação, isso é um assédio moral que irá abrir um precedente para outros concursados de outras estatais. Isso em um cenário que já tem carteiro há seis meses fazendo sozinho o trabalho de três pessoas,


Publicada em : 29/03/2017

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